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Writer's pictureFernanda Gaiotto

Mulheres, cientistas e guerreiras - Elizabete N. S. Gusmão

Updated: Apr 17, 2020


 

ABRIL DE 2020 | EDIÇÃO Nº 1

 

Elizabete, ou Bete para os conhecidos, carrega em suas raízes não só o sangue baiano “retado”, ela também traz a memória de todas as mulheres negras que tiveram seu brilho apagado na história. Sua mente questionadora a fez batalhar por um espaço na pós-graduação, e hoje sua carreira é movida por desafios e conquistas diárias. Antes de batermos um papo, vamos conferir um resumo de quem é a Pesquisadora Elizabete Neta dos Santos Gusmão:


Não satisfeita com apenas uma graduação em administração, Elizabete também se formou como bióloga na Bahia. Decidiu se especializar em tópicos moleculares, e em seu mestrado contribuiu para a compreensão de uma doença que prejudica o cacaueiro – a murcha-de-Ceratocystis. Por meio do estudo da genética populacional desse fungo, ela se tornou mestre em Genética e Biologia Molecular. Atualmente decidiu transformar um pouco sua linha de atuação, e faz seu doutorado usando ferramentas de bioinformática para compreensão da genética populacional de uma árvore nativa de valor econômico.




Qual é ponto mais interessante do que você está atuando no momento? E o mais desafiador? O mais interessante do meu projeto talvez seja também o que é mais desafiador, ou seja, é a primeira vez que trabalho com bioinformática! Ainda mais com uma planta (organismo que eu nunca trabalhei) como modelo biológico e isso, apesar de gerar medo, é algo que me deixa animada.


O que te motiva a buscar uma qualificação de pesquisadora?

Desde a graduação eu quis seguir na carreira de pesquisadora. A ciência me instiga e me desperta paixão exatamente porque ela nasce de questionamentos, dúvidas, incertezas e da inconstância, e isso é lindo.

Porque a mudança é a única coisa permanente e constante na ciência e isso é de uma adrenalina sem igual.

À medida que mergulho no mundo da pesquisa eu tenho mais certeza que nada sei, que não tenho respostas, mas acumulo mais perguntas (risadas).


Além de pesquisa, o que uma geneticista na Bahia faz, o que te faz manter a sanidade em seu tempo livre?


Em meu tempo livre gosto muito de ler coisas não ligadas à vida acadêmica (me julguem, adoro romance histórico, principalmente de mitologia celta kkkkkk).




Assisto a filmes e séries e sempre tiro um tempo para atividade física e para falar com os amigos (mesmo que por meio online).

Você já enfrentou alguma dificuldade que impactou sua vida professional? E a pessoal?


Acho que posso elencar as limitações financeiras, racismo e machismo como coisas que dificultaram o caminho profissional e pessoal.


Essas três coisas se entrelaçam em vários momentos e acaba impondo barreiras, fechando portas e negando oportunidades. Daí muita gente acaba desistindo, porque parece que toda vez que a gente sobe um degrau, parece que a escada parece aumentar... ou, às vezes, temos que voltar 3 degraus.


Como uma cientista mulher e negra, qual recado voce gostaria de dar para a sociedade?

Precisamos falar sobre racismo e machismo, é urgente! Na verdade, precisamos dar voz às pessoas que passam por isso e aprender com elas. Temos que questionar como em uma população com mais de 50% dela sendo afrodescendente, poucos negros conseguem chegar em uma universidade, e dos que chegam poucos conseguem se manter.

Podemos olhar, por exemplo, dentro do programa de Genética, quantos professores negros nós temos? E desses quantas são mulheres? Temos que nos questionar porque em cursos de pós-graduação nós temos tantas mulheres, mas ainda assim nos cargos de chefia somos poucas [...] e se falarmos de mulheres negras, esse número ainda é bem menor. Onde estão essas pessoas? Não estão lá por competência ou por falta de oportunidade? E essa oportunidade é negada por quê?


Às vezes fico pensando em quantas pessoas poderiam ser pesquisadores brilhantes, mas essa oportunidade lhes foi negada por questões de etnia e/ou gênero (observe que tais aspectos por vezes se entrelaçam com o fator social, já que a pobreza no Brasil tem cor, assim como as posições de poder também). Acho que é urgente pararmos com a utopia da meritocracia, esse é um discurso raso e desleal.


Como você acha que a ciência pode colaborar para a capacitação da sociedade (conscientização de preconceitos, minorias)?

A ciência além de linda tem um força tremenda, é meio que uma manopla do infinito e cada área de conhecimento representaria uma joia do infinito (risos) - bem piegas. E essa força pode ser usada para fundamentar discurso de ódio e segregação (vide a tal eugenia social), como também para o contrário. Como? Discutindo isso. Muitos trabalhos que discutem sobre preconceitos contra minorias estão sendo produzidos, mas ainda é pouco valorizado por grupos não minoritários. Mas essas produções é que podem contribuir para a discussão, reflexão e reconhecimento da existência de segregação e preconceito existentes, e só a partir da não negação é que podemos pensar em conscientização. Observe que a luta é tão árdua que ainda estamos falando em pessoas pararem de negar que tais preconceitos existem. E nesse sentido, quem mais além da ciência poderia ser bem sucedida nessa missão?

 

Já ouviu falar da Sapucaínha?

É uma árvore da Mata Atlântica que é

fonte de alimento para animais selvagens

e fonte econômica para pequenos produtores do sul baiano. Elizabete visa entender como a espécie tem reagido às ações humanas e assim compreender as perspectivas futuras para a espécie. O foco é também identificar genes exclusivos que sejam importantes para a sobrevivência e para características de interesse do produtor.


 

Quer conversar com Elizabete? Escreva para ela: ensgusmao@uesc.br


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